O socorro nos casos de envenenamento por cianeto
19 de janeiro de 2021

O socorro nos casos de envenenamento por cianeto

Este foi o tema da mesa redonda ocorrida na ABTS em outubro de 2011, mas sempre recorrente e importante para quem trabalha com produtos perigosos como o cianeto. Um dos participantes desta mesa redonda foi o Dr. Antony Wong, pediatra e toxicologista que trouxe informações muito relevantes para quem manuseia cianeto. Minha homenagem ao profissional que faleceu no dia 15/1/2021, (independente das suas posições polemicas, que muitos de nós não compactuamos), nosso agradecimento e reconhecimento pela ajuda prestada aos profissionais de tratamentos de superfície.

Quero lembrar deste profissional pelo conhecimento sobre toxicologia que nos trouxe grande ajuda e esclarecimentos e prestar minha singela homenagem ao Dr. Antony Wong.

Nesta publicação destacamos os principais pontos citados por ele. Quem quiser pode assistir na íntegra a Mesa Redonda (link abaixo), evento com todos os palestrantes abaixo relacionados:

https://youtu.be/Td0clItIrDM

Tema: Mesa-redonda: O socorro nos casos de envenenamento por cianeto e a problemática da importação dos 'kits' para este atendimento

Participantes:

Sra. Maria Cleide Oshiro - Coordenadora do Curso de Gerenciamento de Riscos da ABTS,

Sr. Jean Jacques Covos - Gerente Técnico da DuPont Chemicals & Fluoroproducts - representando a ABIQUIM - Associação Brasileira da Indústria Química,

Sr. Marcelino Torquato Leite - Eng. Segurança da YKK do Brasil Ltda., e

Dr. Anthony Wong - Diretor Médico da CEATOX Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas Faculdade Medicina da USP

Empresas Patrocinadoras: DuPont chemicals & Fluoroproducts - representando a ABIQUIM - Associação Brasileira da Indústria Química, YKK do Brasil Ltda e ABTS

Data: 26 de outubro de 2011

Relato dos principais pontos abordados pelo Dr. Antony Wong:

- Ele tratou dezenas de casos de contaminados com cianeto, mas os casos de contaminação por intoxicação ocupacional são muito raros, mesmo em ambientes de baixa qualidade de segurança. A maioria dos casos tratados são por incêndio, contaminação alimentar ou tentativa de suicídio.

O cianeto não está entre os 20 mais tóxicos no mundo, a dose letal é 200 mg (relativamente alto a outros que variam de 5-20 microgramas). O mito da letalidade do cianeto é porque ele mata com grande velocidade. A ação do veneno do rato, apesar de muito mais letal é lenta o que dá o tempo suficiente do paciente chegar ao hospital e ser tratado com o antídoto.

As fontes de intoxicação mais comuns de cianeto são incêndios e alimentos. Porque a construção civil em geral e residências tem muito mais plástico que são geram de gás cianídrico nos incêndios.

Os alimentos que possuem cianeto são: bambu jovem, mandioca brava, tapioca, sementes ou caroços de amêndoas amargas, damasco, maçã, pêssego, pera. A mandioca doce pode ser transformada em mandioca brava dependendo da forma de cultivo ou condições do solo.

Dieta rica em hipossulfitos, (produtos usados como conservantes de sucos) podem ajudar o organismo a absorver e neutralizar parte do cianeto supostamente ingerido.

Os Kits tradicionais de Nitrito de Amila para intoxicação por cianeto são de pouco uso prático e se mostraram ineficazes.

O tratamento mais eficaz é o uso da Hidroxocobalamina (vitamina B12 ativo) com sulfanas que são mecanismos naturais de desintoxicação mais eficientes, também  tiocianatos formam quelatos pelo nosso corpo e expelidos na urina.

Discussão -  a intoxicação por cianeto é uma intoxicação hiper-óxica, o corpo não consegue usar o oxigênio, a pessoa intoxicada por cianeto fica com a retina vermelha, as veias ficam vermelhas e mãos vermelho.

A evolução clássica de um paciente intoxicado com cianeto tem vasodilatação (rubor) e sudorese. Quando se intoxicar com cianeto, o tratamento é dar oxigênio (apesar do organismo já estar com excesso de oxigênio) para que as células ainda não atingidas possam receber o oxigênio, e talvez possam suprir as células que ainda não foram atingidas e desta forma salvar o paciente. Mas dependendo da dose nada pode ser feito.

Sintomas: quando o paciente tiver dor de cabeça, ansiedade, fraqueza, vertigem, geralmente ainda dá tempo de salvar o paciente. Os vasos sanguíneos ficam com coloração avermelhado brilhante. O paciente sente salivação, sensação de queimação gástrica, e gosto metálico na boca (depoimentos de pessoas que sobreviveram) – ingestão de cianeto de sódio ou potássio com intenção de matar ou cometer suicídio.

Evolução clínica em níveis elevados, início rápido em altas concentração de cianeto causa colapso e morte quase instantânea, forma apoplética - início de 10-18 segundos e morte em 5-8 minutos. Não há como salvar.

Nos incêndios, geralmente metade das pessoas são contaminadas com monóxido de carbono e a outra metade geralmente com intoxicação por cianeto. Muitos com ambas formas de intoxicação, neste caso exige muito mais cuidado ao usar os antídotos usuais.

Resumo de tratamento:

  • Oxigênio – altas concentrações,
  • Lavagem da pele – pouco valor (mito),
  • Correção de sidose para aumentar a pressão
  • Lavagem gástrica - não dá tempo
  • Carvão ativado - se usa, mas (pouco efetivo)  a absorção já ocorreu. Não adsorve metais
  • Nitrito de amila – inalação - não funciona (não tem concentração suficiente para entrar no pulmão e reagir)
  • Nitrito de sódio 3%– na veia (funciona mas com grande risco)  + Tiosulfato de sódio + – Só para especializados – Se tiver monóxido de carbono (incêndio) não funciona pode levar o paciente a óbito.
  • Cyanokit - Nos últimos 5 anos (2006) – FDA introduziu hidroxocobalamina (Vitamina B12) – Muito antes foi usado na França e no Brasil pela equipe do Dr. Wong - (Rubranova) – 1 ml/kg  ou fazer na farmácia de manipulação -  aplica na veia por 5 minutos e repete depois de 15 minutos– aplicar junto tiossulfato

Foram citados outros tratamentos e kits, mas não serão citados neste resumo devido ao pouco uso e pouca efetividade.

Cartilha:  Galvanoplastia – Como manusear produtos químicos com segurança

Esta cartilha foi lançada em 1998 pelo Sindijóias/Sintrajóias, me foi solicitado elaborar uma cartilha de bolso para uso pelos trabalhadores da indústria de jóias. Nesta ocasião fiz uma pesquisa junto a profissionais de segurança no trabalho aos órgãos competentes e médicos do trabalho e daí surgiu esta cartilha da qual muito me orgulho porque vejo como estava atual nos tratamentos indicados. Nesta ocasião ainda se usava o Kit com Nitrito de Amila, no entanto já estavam sendo indicados e utilizados a Hidroxocobalamina como forma prática de descontaminação.

Sintrajóias_ComoManusearProdutosQuímicoscomSegurança

 

Hidroxocobalamina no tratamento de intoxicações por cianeto

Publicação da CONITEC – Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS – 2015. Esta publicação mostra estudos completos e efetivos com relação ao uso deste componente como tratamento às pessoas contaminadas com cianeto e sua recomendação para integralização ao programa do SUS como diretriz terapêutica.

Relatorio_Hidroxocobalamina_CP

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

Possui graduação de Bacharel em Ciências com Habilitação em Química e Atribuições Tecnológicas pela Faculdade de São Bernardo do Campo (FASB), 1980. É Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), 2011. Atua na ABTS - Associação Brasileira de Tratamentos de Superfície desde 1994, foi presidente na gestão 2010-2012, foi coordenadora do EBRATS 2015 - 15º Encontro Brasileiro de Tratamentos de Superfície e IV INTERFINISH Latino Americano, foi Diretora Cultural nas gestões 2004-2006 e 2007-2009, atualmente é vice Diretora Cultural. É consultora técnica e representante comercial.

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