Globalização requer conhecer unidades de medida para camadas de ouro - Micrometros ou micropolegadas?
Tema: Globalização requer conhecer unidades de medida e normas para camadas de ouro
Este artigo foi escrito em 2009 para a Revista Tratamentos de Superfície Edição 154 Março/Abril - A revista publicou nesta edição a programação do EBRATS 2009 - O maior encontro de profissionais de Tratamentos de Superfície da América Latina., confira no link abaixo:
http://www.abts.org.br/revista-visualizar.asp?id=28&edicao=154
São muitos os fatores que contribuem para tornar uma empresa competitiva no mundo global. Para estabelecer uma comunicação inicial, conhecer a língua e aspectos da cultura auxilia no relacionamento comercial básico. Entretanto é preciso mais, como por exemplo conhecer as normas técnicas e unidades adotadas pelo país com o qual se deseja estabelecer vínculo. A falta deles podem causar mal entendidos e até perda de negócios. O objetivo desta matéria é trazer orientações já conhecidas sobre algumas equivalências de unidades e nomenclaturas usuais que tem gerado muitas consultas e dúvidas por parte de alguns leitores do segmento específico de bijuterias e artigos “folheados a ouro”.
As relações comerciais entre povos tiveram início já na antiguidade, quando nos processos de troca os povos criavam suas próprias unidades de medida. A polegada (inch), e o pé (foot), tiveram como referência base de medida a própria polegada e o pé. A medida que o comércio se desenvolvia, se falava na necessidade de adotar um padrão de medida único para as diferentes grandezas.
Foi em 1791, que o Governo Francês fez um pedido à Academia de Ciências da França, e assim um grupo de representantes de vários países se juntaram para discutir a adoção de um sistema único de medidas, surgindo assim o sistema métrico decimal. A palavra metro, tem origem do grego “métron”, que significa “o que mede”. No Brasil o sistema métrico foi adotado em 1928.
Unidades de medidas para espessura das camadas metálicas de ouro
Os Estados Unidos e o Reino Unido, por exemplo, não adotaram o sistema métrico. Por esta razão, para uma empresa brasileira produzir peças e exportar para os Estados Unidos, precisa saber que a unidade que eles adotam para medir espessura das camadas galvânicas é o “inch”, ou polegadas, conforme exemplo da tabela de conversão abaixo.
Polegadas | Sistema métrico |
1” polegada (in) | 25,4 mm (milímetro) |
1 ?in (micropolegada) | 0,0254 ?m (micrometro) |
39,37 ?in (micropolegadas) | 1 ?m (micrometro) |
Figura 1 - Tabela de equivalências polegadas versus sistema métrico
Muitos pensam, erroneamente que valores especificados nos Estados Unidos em 40 ?in (micropolegadas) significa uma espessura muito elevada e desistem do negócio quando na realidade corresponde a uma espessura aproximada de 1,0 ?m (micrometro).
40 ?in (micropolegadas) = aprox. 1,0 ?m (micrometro) |
Figura 2 – Relação de espessura de camada micropolegada e micrometro
Outro fator de confusão é quando especificam a camada em 10 milionésimos (polegada), (ou 10 mils.); que significa 10 ?in (micropolegada). Esta especificação comum utilizada nos Estados Unidos, causa no Brasil grande confusão, porque é confundida com o que as empresas brasileiras utilizam da relação milésimos por peso.
40 mils. ou 40 ?in (micropolegada) = 1,0 ?m (micrometro) |
Figura 3 – Relação de espessura de camada denominação coloquial nos EUA e micrometro
No Brasil, uma empresa que dá banho de ouro em bijuterias, costuma denominar sua qualidade em “milesimagem”, ou seja para cada quilo que produto se aplica uma quantidade em gramas de ouro. Por exemplo, 10 milésimos de ouro é denominado coloquialmente para os produtos que foram depositados galvanicamente 10 gramas de ouro fino por quilo de peça. Esta denominação coloquial, apesar de muito prática em termos de cálculo de custo, nada tem a ver com espessura da camada, porque para a mesma especificação, a espessura varia de acordo com o peso do material. De forma que uma peça que pesa muito e tem pouca área superficial terá uma espessura de ouro muito maior que outra peça leve com muita área superficial, comprometendo assim, no caso da peça leve a sua qualidade e durabilidade.
40 mil. (milésimos) = 40 gramas Au/kg peça = Não tem nenhuma relação com unidade de espessura |
Figura 4 – Milesimagem, denominação coloquial no Brasil para quantidade de ouro aplicada em 1 kg de peças.
Termos comerciais “Folheado” brasileiro e “Gold Filled” americano
Conforme a FTC (Federal Trade Commission - USA), órgão americano que protege o consumidor, “gold filled” é denominado como a junção de um metal base com camada externa de ouro, conhecido no Brasil como chapeado mecânico de ouro. Este processo foi desenvolvido na indústria para ajudar na redução de custos de jóias, sem sacrificar a beleza e a durabilidade. Também conhecido como “rolled gold”, “gold overlay” ou “metal cladding”.
Para conhecer a qualidade deste produto, a FTC denomina uma marcação nas peças como exemplo “1/20 14k GF”; que significa que o produto contém o total de peso em ouro na proporção de 1/20; ou seja, uma peça com 40 gramas, deve conter no mínimo 2 gramas de ouro 14k.
A dificuldade do “gold filled” é não poder abranger toda gama de produtos, peças de formas complexas e intrincadas não podem ser produzidas nesta técnica. Também é recomendado aplicar uma camada galvânica posterior para uniformizar a tonalidade do ouro.
Já os processos galvânicos de ouro de cobertura de superfícies, conhecidos no Brasil como o “folheado”, tem a grande vantagem de abranger todos os tipos de superfície, por mais difíceis que sejam. Também é possível aplicar em qualquer espessura de camada e em diversos graus de pureza, sendo que os banhos de folheação 18k e 24k são os mais populares.
Com os avanços tecnológicos das fórmulas, o processo “folheado” tem larga vantagem sobre os “gold filled”, pela sua flexibilidade e facilidade de operação, as peças podem ser rebanhadas para reparos. Os processos mais modernos permitem aplicar qualquer espessura de camada e quando aplicados em espessuras equivalentes aos do processo “gold filled”, tem a durabilidade igual ou maior.
Porém, a falta de uma normatização das camadas folheadas faz com que os produtores apliquem qualquer espessura, e denomina-os como folheados. Na norma americana quando aplicada camada de ouro da ordem de 7 ?in (0,2?m) o produto é denominado somente como “gold flash”.
No Brasil, embora diversas tentativas tenham sido feitas para normalizar camadas de ouro para bijuterias e adornos, ou o processo conhecido como “folheado”, não há uma norma para definir o processo nem especificações de camada, marcação ou quantidade versus qualidade de ouro por peso. A falta de normas é a única desvantagem do produto “folheado” porque alguns produtores a colocam junto à melhor qualidade do “gold filled” e outros a equiparam a um simples dourado.
Referencias bibliográficas:
- Gold filled Products in the USA – Federal Regulations and their impact –Gold Bull, 1983,16(2)
- FTC – Federal Trade Commission
- An overview of gold filled processes and their legal classifications - Artisan Plating
- Wikipedia.org/wiki/unidade/metro