Como economizar ouro
06 de abril de 2021

Como economizar ouro

A importância de conhecer custos na galvanoplastia de metais preciosos

Introdução

O que fazer quando o mercado impõe manutenção dos preços ao consumidor, mas a cotação da matéria prima mais impactante na fabricação de jóias, bijuterias e artigos folheados que é o ouro, a prata e o ródio dobraram de preços? Diante da evolução diária dos preços fica muito desafiador para o fabricante trabalhar com estas variações e torna ainda mais fundamental o entendimento de onde economizar e quais os fatores que podem minimizar os gastos com estas matérias primas.

O ano de 2020 foi sem dúvida um ano de grandes desafios, além de todos os obstáculos como pandemia, distanciamento, fechamento das lojas e dificuldades naturais da situação houve o aumento constante dos preços dos metais preciosos que impactaram diretamente no custo dos produtos.

Este artigo foi publicado na revista Tratamentos de Superfície edição 223 de Março 2021 pags 17-21. Veja no link, além de outros assuntos de muito interesse para o profissional de tratamento de superfície :

https://www.portalts.com.br/revista/tratamento-de-superficie/ed223

Ouro e prata – Nas figuras 1 e 2 abaixo é mostrada a evolução dos preços destes metais nos últimos 2 anos, sobretudo ao longo do ano 2020; no caso da prata apesar desta matéria prima ser bem mais barata que o ouro, sua cotação quase que triplicou.


Figura 1  - Fonte : https://pt.bullion-rates.com/gold/BRL/Year-2-chart.htm
Figura 2- Fonte : https://pt.bullion-rates.com/silver/BRL/Year-2-chart.htm

Se considerar o quanto estas matérias primas representam no custo de uma bijuteria ou artigo folheado fica ainda mais relevante conhecer os impactos que estes aumentos causam nos preços, em fevereiro de 2018 publiquei um artigo no blog Galvanoplastia Prática: “Qual a diferença entre bijuteria, folheado e jóias”; neste artigo colocamos o impacto do metal ouro no preço de uma peça.

https://wilmaatsantos.com.br/2018/02/15/qual-a-diferenca-entre-bijuterias-folheados-semi-joias-e-joias/

Como resposta, o principal fator é a quantidade de ouro envolvida, pois o metal precioso pode representar até 90% do preço de uma peça, quanto maior a quantidade de metal, mais cara ela é.

Exemplo 1: Um anel de 10 gr de ouro 18K, é considerada jóia por ser todo feito em material nobre;  tem só de ouro o custo de R$ 2.362,00 – 7,5 gr de ouro fino em 10 gr peça na cotação do metal a R$ 315,00/gr (sem considerar custos de fabricação, MO etc.).

Exemplo 2: O mesmo modelo de anel, produzido em latão com camada superficial de 10 milésimos de ouro (milésimos – é o termo usado pelo mercado para aplicar 10 gr de ouro por quilo de peças), ou seja é considerado “folheado”  (semijóia) - a superfície tratada do anel corresponde a cobrir o anel com 0,1 gr de ouro que na cotação de R$ 315,0/gr Au,  representa o custo de  R$ 31,50 de ouro revestindo o anel.

https://wilmaatsantos.com.br/2019/07/09/qual-a-diferenca-entre-milesimos-peso-e-microns-2/

Exemplo 3: O mesmo modelo de anel, produzido em latão ou outro metal ainda mais barato com a superfície tratada e coberta com uma fina camada de ouro, conhecida como “flash”, geralmente com camada superficial de aproximadamente 0,7 milésimo (milésimos – é o termo usado pelo mercado para aplicar 0,7 gr de ouro por quilo de peças), ou seja 0,007 gr no anel - considerado bijuteria - que na cotação igual acima representa o custo de R$ 2,20 de ouro revestindo o anel.

Resumindo, tudo ou quase tudo que tem a cor dourada tem ouro, e as propriedades químicas e físicas do metal são incomparáveis. O que varia, em qualidade, durabilidade e custo é a quantidade de ouro que envolve a peça, ou a espessura da camada de ouro que está recobrindo a peça banhada à ouro.

As espessuras das camadas de ouro aplicadas galvanicamente em uma peça, podem variar de 0,02µm a 300µm (micrometros), mais comum em nosso mercado é 0,02µm a 5µm (micrometros); mesmo assim é uma diferença enorme que chega a de 250 vezes mais ouro entre uma e outra peça. Falando em termos de peso, porque muitos produtores trabalham com a linguagem de gramas Au/Kg peças, as camadas variam de 0,2 a 20 gramas de ouro ou liga de ouro 18K por quilo de peças.

Se for traduzir em custo comparamos na Figura 3 abaixo o que representa 1 kg de bijuteria/folheado/jóia em quantidade/custo de ouro. Na tabela mantivemos o preço na ocasião da publicação em fevereiro 2018 para comparar seus custos em fevereiro 2021:

Figura 3-  Comparativo da quantidade de ouro envolvida na fabricação de 1 kg de peças e seu custo (somente do ouro aplicado, sem considerar outros fatores) - em Fev/2018 e fev/2021

Veja a matéria completa no link:

Ródio –apesar do nome do metal ser praticamente desconhecido pelo público em geral, ele representa a aparência branca de todas as jóias de ouro branco vistas nas joalherias e da grande maioria das semijoias ou bijuterias folheadas; além de muitas bijuterias brancas. O ródio é também o mais raro e valioso dos metais preciosos; ele é obtido como sub produto da mineração de metais como paládio, platina e níquel. Não existe uma mina primária de ródio e os principais produtores estão localizados na África do Sul que produz mais de 85% do fornecimento global de ródio e está sofrendo com o envelhecimento de suas minas, o alto custo de mão de obra e energia elétrica dispendidas em suas minas que são muito profundas, além de outros fatores político regionais.

Figura 4 – Evolução da cotação do metal ródio em US$/oz. Fonte: http://www.platinum.matthey.com/prices/price-charts

Por muito tempo a principal aplicação deste metal era no revestimento de joias de ouro branco, atualmente  o uso do ródio em conversores catalíticos de automóveis chega a quase 90% da demanda deste metal, isto porque o ródio utilizado em catalisadores reduz a quantidade de gases de escape de óxidos de nitrogênio (NOx) emitidos para a atmosfera. O ródio é um metal muito especial em termos de desempenho na conversão de NOx em gases inofensivos e devido as maiores restrições de controle de emissão de gases na atmosfeta continuará a ser o metal preferido para evitar a emissão.

Desta forma a demanda deste metal tem sido muito maior do que a sua produção e este desbalanço resulta na falta do produto além de que este metal não é negociado em bolsa. Os produtores que vendem através de contratos de longo prazo estão liberando pouco no mercado à vista gerando falta de liquidez. O sentimento de que vai faltar e os preços subir, fazem com que toda oferta seja aceita. Nos meados de 2018 sua cotação era em torno de US$ 2.000/oz, durante os anos de 2019 e 2020 não parou de subir estando agora em fevereiro de 2021 ao impressionante valor de US$ 21.720/oz, ou seja, aumentou 10 vezes em 3 anos. Este valor representa que 1 gr deste metal (1 oz é igual a 31,10 gr) custa aproximadamente R$ 3.713,00, valor do metal bruto sem considerar os custos de transformação do metal em banho de ródio nem os impostos de importação do produto.

O valor deste metal subiu de forma tão intensa que hoje seu custo é mais significativo ainda na composição do custo final da peça banhada em ródio, mesmo aplicando espessuras menores para um desempenho excelente. Diferente do ouro que se aplicam espessuras de camadas variadas em função da qualidade, o ródio sempre teve aplicação de espessura única com pouca variação, a espessura da camada de ródio varia entre 0,05-0,15 µm  (micrometros), devido às características deste metal que tem a dureza próxima da do cromo duro, que confere uma resistência ao desgaste muitas vezes maior que a do ouro que é um metal mole.

continua...

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

Possui graduação de Bacharel em Ciências com Habilitação em Química e Atribuições Tecnológicas pela Faculdade de São Bernardo do Campo (FASB), 1980. É Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), 2011. Atua na ABTS - Associação Brasileira de Tratamentos de Superfície desde 1994, foi presidente na gestão 2010-2012, foi coordenadora do EBRATS 2015 - 15º Encontro Brasileiro de Tratamentos de Superfície e IV INTERFINISH Latino Americano, foi Diretora Cultural nas gestões 2004-2006 e 2007-2009, atualmente é vice Diretora Cultural. É consultora técnica e representante comercial.

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