Camada de proteção às bijuterias, folheados e joias a base de bionanotecnologia
18 de maio de 2021

Camada de proteção às bijuterias, folheados e joias a base de bionanotecnologia

As experiências e resultados com as três gerações de proteção para a cobertura decorativa

Devido ao alto custo dos metais preciosos, as espessuras das camadas usadas como revestimento vêm se tornando cada vez mais finas, tornando-se difícil evitar a exposição do substrato ao meio através dos defeitos dessas camadas. A corrosão de substratos metálicos com revestimento dos metais de baixa espessura, como o ouro, é muito comum, pois é difícil eliminar a presença de defeitos nesses revestimentos e, consequentemente, há exposição do substrato a meios corrosivos, como por exemplo, os meios fisiológicos.

Este assunto foi abordado no artigo que escrevi para a Revista Tratamentos de Superfície Edição 217 de Novembro de 2019

E ainda, por mais que se busque aprimorar o acabamento da base, seja por processos mecânicos e/ou químicos, é improvável a eliminação total dos defeitos da base. Os substratos que forem menos nobres que o revestimento, ao serem expostos ao meio corrosivo, apresentam tendência a sofrer processo de corrosão localizada e, eventualmente, da peça toda. A Figura 2 ilustra processos de corrosão típicos de sistemas em que um metal mais nobre que o substrato é usado como revestimento com o objetivo de proteger e dar acabamento decorativo ao metal substrato, mas os defeitos do metal base e consequentemente a falta de cobertura total nos revestimentos, provocam a oxidação e resíduos dos metais menos nobres na superfície tratada.

FIGURA 2 - Representação esquemática de processos de corrosão associados com substrato e revestimentos contendo defeitos os quais permitem o contato do substrato metálico com o meio corrosivo

Graças à evolução e desenvolvimento dos processos de tratamentos de superfície, foram desenvolvidas camadas de conversão onde uma pequena camada a base de cromatos dá uma proteção às superfícies revestidas; esse recurso tem sido amplamente utilizado, sobretudo  no mercado decorativo de bijuterias. Trata-se de finas e invisíveis camadas de produtos de cromo com alto grau de cobertura e proteção. Outro recurso muito empregado no mercado é a utilização de vernizes à base de solvente ou água.

No entanto, camadas de proteção à base de cromo têm sido abolidas devido ao efeito tóxico do elemento e as camadas de cromo trivalente não se apresentam tão eficazes. Os vernizes têm a aparência plastificada que não são favoráveis esteticamente e nem sempre conseguem o efeito desejado, somado a isso, os vernizes não atendem às necessidades de condução elétrica, soldabilidade e bondabilidade (junção entre metais) que as aplicações técnicas exigem.

Primeira geração – Proteção orgânica

Há décadas, a indústria busca desenvolver camadas orgânicas que possam dar a proteção, principalmente, que não tenham a aparência plastificada, e que atendam às exigências da indústria cuja aplicação técnica dos revestimentos exige a manutenção das qualidades metálicas dos revestimentos finais. Também foram desenvolvidas e estudadas camadas inorgânicas à base de cromatos trivalentes – ou, ainda, a combinação das duas camadas inorgânica e orgânica.

A primeira geração de camadas de proteção orgânica de simples proteção é um processo que tem como finalidade uma selagem da superfície através de uma simples camada orgânica, aplicada por imersão das peças em meio aquoso – que forma uma proteção sobre o metal. Essas camadas não possuem grande resistência mecânica, mas dão uma sobrevida aos finos revestimentos.






FIGURA 3Primeira Geração: Representação de uma proteção de camada orgânica simples sobre metal revestido de camadas de cobre, níquel e ouro

Segunda geração – Proteção orgânica nanopartículas auto-organizáveis

Com estudos iniciados nas décadas de 1980 e 1990, a proteção é baseada na capacidade de auto-organização das moléculas orgânicas e com afinidade por metais, iniciando entendimentos nos processos de organização, adsorção, crescimento, lubrificação e corrosão. Nesse período, algumas patentes foram publicadas para demonstrar os mecanismos desses processos. O objetivo era encontrar uma camada de proteção com moléculas bem fechadas a fim de minimizar a exposição dos revestimentos e aumentar a resistência das camadas como proteção dos diversos metais, como prata, ouro, cobre e outros.



FIGURA 4 – Segunda Geração: Representação de proteção de camadas orgânicas nanopartículas auto-organizáveis por simples imersão sobre metal, revestido de camadas de cobre, níquel e ouro.

Terceira geração – Proteção orgânica à base de nanopartícula auto-organizável compacta”

Com camadas de ouro cada vez menores devido ao alto custo do metal e à constante necessidade de melhorar os resultados na proteção das superfícies tratadas, foram promovidos estudos e desenvolvimentos para aperfeiçoar os produtos até então conhecidos. Com a adição de produtos condutores na mistura aquosa foi possível melhorar substancialmente a proteção. A simples adição de sal condutor e transformação de produto por imersão, para aplicação eletrolítica dessa camada orgânica, resultou em grande melhoria na qualidade da cobertura da camada.





FIGURA 5Terceira geração: Representação de uma proteção de camada orgânica, nanopartículas auto-organizáveis por eletrólise , sobre metal revestido de camadas de cobre, níquel e ouro

A eletrólise ajuda as moléculas, nanopartículas auto-organizáveis, a se reagruparem, e a proteção obtida através dessas melhorias tornaram as camadas mais compactas – se comparadas com aplicação por simples imersão – sem interferir nas características elétricas e de condutibilidade da superfície protegida. É importante salientar que a superfície dos metais utilizados comumente como base não é perfeita, ela possui rugosidade e imperfeições bem mais acentuados do que as apresentadas na representação da Figura 5; mas, a camada de proteção, por ser da ordem de nanopartículas, preenche os espaços da porosidade e das imperfeições, resultando, assim, na melhor proteção da superfície do que as apresentadas anteriormente.

A grande vantagem dessa proteção para a aplicação decorativa é que ela apresenta mais brilho, realçando a beleza do metal; além de ter um toque suave e deslizante devido ao menor coeficiente de fricção, e, ainda, a de não parecer uma camada com aparência plastificada.

Para a aplicação funcional ou técnica, também apresenta vantagens devido às suas propriedades elétricas, como condutibilidade, soldabilidade e bondabilidade (junções entre metais) inalteradas, características desejadas desses revestimentos para contatos, eletrodos, etc.

Intertítulo: Efetividade da proteção

As camadas protegidas apresentam excelentes resultados nos testes de imersão em solução K2S 5%. As proteções de Terceira Geração apresentaram resultados ainda melhores quando submetidas ao mesmo teste em relação ao processo de simples imersão. Sem a proteção, as peças ficam totalmente negras. Também nos ensaios de Salt Spray são obtidas resistência de até 72 horas sem alteração dos revestimentos.




FIGURA 6 – Resultado do ensaio de corrosão – Imersão em solução K2S 5%, em superfície prateada, sem revestimento; comparando com as soluções de três gerações

Conclusão

                       Produtos à base de nanopartículas contribui para o segmento de tratamentos de superfície desenvolvendo e melhorando ainda mais os grandes avanços que estão sendo obtidos. Os estudos mostram que a utilização dessas camadas de proteção ajudam muito a aumentar a resistência à corrosão dos revestimentos e ainda melhoram algumas características, como a capacidade de deslizamento – que diminui o efeito da fricção. São produtos à base de bionanotecnologia que são produzidos com água, sem metais pesados – como o cromo – ou produtos nocivos ao meio ambiente – como solventes clorados –, e são totalmente biodegradáveis.

O artigo está nas páginas 20-23 da revista. Veja a revista completa com outros artigos interessantes.

https://www.portalts.com.br/revista/tratamento-de-superficie/ed217

Bibliografia

[1]            SANTOS, W.A.T; Investigação da citotoxicidade e resistencia à corrosão de revestimentos eletrodepositados de cobre, níquel e bronze branco, com e sem camada de ouro utilizados em aplicações decorativas, Dissertação de Mestrado, 2011

[2]            PANOSSIAN, Z. Corrosão e proteção contra corrosão em equipamentos e estruturas metálicas, v. 2,Imesp SP, 1993.

[3]            S. Nivea; S.Berger; f. Talgner – Jahrbuch Oberflächentecnik Band 72 – New PostTreatment Process with Enhanced Technical Performance: Corrosion Protection for Electrical Contacts.

[4]            Informações folhetos técnicos: Electrochemical, Umicore; Legor; Italfimet.

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

WILMA AYAKO TAIRA DOS SANTOS

Possui graduação de Bacharel em Ciências com Habilitação em Química e Atribuições Tecnológicas pela Faculdade de São Bernardo do Campo (FASB), 1980. É Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), 2011. Atua na ABTS - Associação Brasileira de Tratamentos de Superfície desde 1994, foi presidente na gestão 2010-2012, foi coordenadora do EBRATS 2015 - 15º Encontro Brasileiro de Tratamentos de Superfície e IV INTERFINISH Latino Americano, foi Diretora Cultural nas gestões 2004-2006 e 2007-2009, atualmente é vice Diretora Cultural. É consultora técnica e representante comercial.

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